terça-feira, 22 de outubro de 2013

Texto lido na Conferência de Imprensa do movimento "Obrigado, Troika"


Boa tarde, senhoras repórteres, cavalheiros…

Antes de mais gostaríamos de dizer que o que finalmente espoletou esta nossa tomada de acção foi a convocatória de mais uma manifestação contra a troika no próximo dia 26 de Outubro, Sábado. Durante tempo demais assistimos na sombra enquanto essa gentinha, essa gentalha, insultava avulsamente os nossos credores, enquanto mandavam, perdoem-me a expressão, “lixar” organizações com o historial de sucesso e de credibilidade internacional do Fundo Monetário Internacional, da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu. Apelamos, antes de mais, a todos os portugueses a que não saiam de casa. Não saiam de casa no dia 26 de Outubro, não vão para o Rossio protestar contra a troika. Aqueles que já não têm casas, que fiquem debaixo das vossas caixas de cartão. Esse famigerado grupo “Que Se Lixe a Troika” é apenas mais um empecilho às brilhantes políticas que têm sido implementadas pelo governo do sr. Dr. economista Passos Coelho.

O movimento “Obrigado, Troika”, convocador desta manifestação, é uma plataforma de organizações como os Banqueiros Ultrajados, a Associação de Artes Especulativas, o Clube dos Senhorios “Despejos Verdadeiros, Já” e a Liga dos Empresários Empreendedores Competitivos. E estamos ultrajados pela quantidade de entraves que se estão a pôr à frente da política de austeridade. A austeridade está a funcionar perfeitamente. As nossas acções na bolsa estão cada vez mais cotadas. Os bancos foram resgatados e continuarão a sê-lo. Cada vez podemos despedir mais facilmente, baixar os salários por decisão unilateral, cada vez gastamos menos com IRC, com Segurança Social, com Saúde e escolas, com todos esses luxos que a maralha anda para aí a defender. A austeridade está a construir um país de futuro. Porque é que as pessoas hão-de poder viver até aos 80 anos? Trabalham até aos 67 e depois morrem. Poupamos uma fortuna em pensões e o país torna-se muitíssimo mais competitivo.

Estamos ultrajados por continuarem a existir protestos contra o nosso bravo governo. E apelamos a que o governo proíba também a próxima manifestação de sábado desse grupo de malfeitores do Que Se Lixe a Troika. Como é que é possível que essa maralha, essa gentalha, possa achar que tem alguma coisa a dizer sobre o país? Têm que trabalhar e calar-se. É esse o seu estatuto social, precários e desempregados preguiçosos sem nada de jeito para contribuir para a salvação nacional. Concordamos com o Dr. Paulo Portas: os pobres não se manifestam e não aparecem na televisão – e nem têm nada que se manifestar, e ainda menos que aparecer na televisão. Porque isso retira-nos credibilidade nos mercados. Onde é que já se viu? Cada vez que lhes tiram uma refeição estão a causar alvoroço? É preciso ser impiedoso com esses pobres. Porque se são pobres a culpa é deles e só deles. Nós, que conseguimos acumular os nossos pés de meia e que temos uma vida confortável, não é apenas porque os nossos pais e tios nos deixaram fortunas, é também porque soubemos bem organizar-nos para trazer a credibilidade da ajuda externa para o país. E é preciso mantê-los para termos credibilidade nos mercados e conseguirmos obter mais financiamento para a actividade bancária e financeira.

Estamos ultrajados contra todos os protestos, contra todas as leis, contra esses desafinados que cantam a Grândola, Vila Morena. Dia 26 de Outubro é preciso pôr um ponto final a isso. É preciso que os interesses nacionais que nós defendemos estejam acima de todos os outros interesses. As pessoas têm de perceber que isto acabou. Acabou a mama. Quem tem dinheiro para pagar um médico paga, quem não tem, lamentamos, mas não temos de ser nós que não pagamos impostos a sustentá-los. Nem têm de estar mais que 4 anos na escola – ler, escrever e fazer contas de matemática chega perfeitamente para a nossa nova sociedade! Este sábado, dia 26 de Outubro, a maralha vai tentar dizer que o Orçamento de Estado é mau. E em parte concordamos com eles, porque de facto podia haver muito mais cortes. Porque é que só hão de cortar os salários a partir dos 600€? Podiam cortar todos! E aliás podiam era acabar com o salário mínimo. Isso é tão século passado! Tão fora de moda! E só cortar 700 milhões de euros no Serviço Nacional de Saúde? Era cortar tudo de uma vez, que a área da saúde privada atrai investimento estrangeiro e aumenta a competitividade do país! E os velhos? Cortar só em algumas pensões? Era preciso era cortar-lhes o pio de vez!

Terminamos a nossa intervenção e damos por concluída esta manifestação afirmando o nosso empenho em manter a credibilidade do país e dos nossos credores internacionais. E assim apelamos desde já a que, quando terminar o memorando da troika, se assine imediatamente um programa cautelar que obrigue a manter exactamente essas mesmas políticas. E, se acabar esse programa cautelar, apelamos à realização de um programa de salvação nacional. E, se for mesmo urgente e necessário para recuperar a credibilidade nos mercados, que num grande esforço nacional façamos então um programa de salvação da salvação nacional. Sabemos que é necessário e que vai resolver todos os nossos problemas. E não se esqueçam de parar de ir às manifestações, de aceitar que não há outro caminho, de comer e calar. Porque a troika é que sabe. E se a troika diz que a democracia já não é competitiva, temos de aceitar e mais nada. Dia 26 de Outubro, todos em casa! Que ninguém saia à rua! A troika é quem mais ordena! Que Se Lixe o Povo!
(Centro Jean Monnet, Representação da Comissão Europeia em Lisboa, 21.10.2013)

Vídeos
(Ver em Media as diferentes notícias sobre o protesto)

E o comunicado de imprensa, enviado a informar que se ia realizar a manifestação:

Comunicado de Imprensa
OBRIGADO TROIKA!
Um grupo de cidadãos, reconhecendo tudo o que a troika está a fazer por Portugal, vai realizar uma manifestação no dia 21 de Outubro, 2ª feira, às 18.00 horas, de apoio ao Banco Central Europeu, à Comissão Europeia e ao FMI. O local de encontro será a Praça dos Restauradores e o percurso terminará no Centro Jean Monnet (Largo Jean Monnet).
PORTUGAL AGRADECIDO!
Para que Portugal cresça e possa, dignamente, pagar as suas dívidas reivindicamos:
- o fim dos contratos de trabalho, dos subsídios de desemprego e do RSI e gritamos:
Abaixo as reformas!
Abaixo a escola pública!
O SNS só atrapalha!
Privatize-se a água, privatizem-se os correios!
Rasguemos o código de trabalho e os direitos de quem trabalha, que decidam os empreendedores, que decida a troika!
Acabe-se com o tribunal constitucional!
Rasgue-se a constituição!
SE SENTES QUE ISTO É O QUE DESEJAS JUNTA-TE A NÓS PARA DIZERMOS A UMA SÓ VOZ:
OBRIGADO TROIKA!
Depois da manifestação, no Largo Jean Monnet, os cidadãos que convocam esta manifestação darão uma conferência de imprensa.