sábado, 23 de fevereiro de 2013

Texto de Bruno Carvalho

Regresso ao Futuro

As palavras de amor sobram em tempos de guerra. Enquanto os bancos despejam os pobres das suas casas, os ricos banqueteiam-se. Para que o dinheiro lhes continue a chover nos bolsos, nós temos que aguentar a miséria que nos impõem. Portugal é um país do terceiro mundo travestido. De todas as que nos levaram, a única fábrica que resta é a que produz esse imenso exército de desempregados. Quem nos vendeu a ideia de que com a destruição da indústria, das pescas e da agricultura se abririam as portas do futuro, sabia que estava a pavimentar o caminho de regresso ao passado.

Em 1926, os banqueiros, os industriais e os agrários encontraram no fascismo a solução para submeter os trabalhadores ao seu mundo de terror. À frente do país, estavam os seus representantes políticos encabeçados por Salazar e Caetano. Depois de 1976, refeitos do susto revolucionário, o poder económico apostou em Mário Soares e Cavaco Silva. Foram eles que falaram do futuro para nos levar ao passado. Acenaram-nos com a CEE como se fosse um letreiro de um casino de Las Vegas e omitiram-nos que eles próprios eram o croupier de um jogo viciado.

PS, PSD e CDS-PP são os tentáculos políticos do polvo económico que nos afoga nesta tragédia sem nome. Eles são a cara. O FMI, União Europeia e Banco Central Europeu são a coroa. Duas faces de uma bala que tem o nosso nome. São os que destroem as funções sociais do estado e que privatizam para uns poucos o que é de todos. Mas eles sabem que unidos podemos derrotá-los. É por isso que inventam conceitos que juntam ricos e pobres, patrões e trabalhadores. Precisamente para que pensemos que eles nos representam.

No fundo, não há quem lixa e quem é lixado: somos todos cidadãos e todos responsáveis. Os mesmos que querem que paguemos as suas dívidas e que nunca se preocuparam em partilhar os seus lucros tentam misturar o sem-abrigo com o banqueiro, o que trabalha no andaime com o que administra um grupo económico. Por isso é que assumirmos orgulhosamente a condição do que realmente somos —maioria, 99 %, trabalhadores, proletários, explorados, precários, lixados, fodidos, humilhados — é a forma de dizermos que nada temos de comum com eles.

Quando era pequeno, intrigava-me o facto de o filme Regresso ao Futuro ser uma viagem ao passado. Mas é um título que se adequa à nossa história. Se pensarmos que 1974 é futuro e 2013 é passado tudo faz sentido. Naquele tempo a que temos de regressar, o povo uniu-se para derrotar o fascismo e abriu as portas a um futuro de justiça social e progresso. Não se trata de qualquer celebração saudosista. Trata-se de recuperar o poder político e económico para as mãos de quem trabalha. Não temos Zeca Afonso, não temos Salgueiro Maia e não temos Vasco Gonçalves. E todos eles, se estivessem vivos, diriam que isso não importa. O que importa é a massa que deu corpo à consigna que fez tremer o chão ao fascismo. Ali estaremos, a 2 de Março, para gritar que o povo é quem mais ordena.